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Junho 2018 archive

O que é ser Competente Emocionalmente?

Ser inteligente emocionalmente, ter o potencial de traduzir bem sentimentos em si mesmo e/ou no outro não significa necessariamente que se é competente, no que diz respeito a esta habilidade.

Ser competente em termos emocionais significa ser capaz de pensar, perceber e, a partir disto, gerir os próprios sentimentos, emoções (e atitudes), incluindo o compreender a linguagem emocional do outro – a qual é fundamentalmente não verbal.

Essa capacidade de alinhar aquilo que se diz àquilo que se demonstra gestualmente, através de pequeninas expressões, ricas de mensagens emocionais (direção do olhar, qualidade do sorriso, posição do corpo, ritmo respiratório, etc) é uma grande habilidade, que exige prática, a qual inclui, segundo Daniel Goleman, alguns elementos fundamentais: autoconsciência, autocontrolo, consciência social e manejo das relações.

Autoconsciência
A autoconsciência diz respeito ao conhecimento de si, dos próprios pensamentos, motivações, atitudes e afetos. Quantas vezes são feitas e ditas coisas completamente contrárias àquilo que verdadeiramente se acredita ou se sente, porém sem qualquer consciência desta discrepância.

Autocontrolo
O autocontrolo se refere à capacidade de se conter, no sentido de reconhecer o que se sente e, mesmo diante de um grande desconforto ou de uma grande alegria, pensar e agir conforme o que se pretende como razoável/ajustado à situação e objetivos da pessoa.

Consciência Social
A consciência social é a habilidade de perceber que o outro também possui um mundo mental, cheio de emoções, pensamentos, desejos e expectativas. Não somos todos movidos e mobilizados pelas mesmas interpretações do mundo.

Manejo Eficaz
O manejo eficaz das relações é o resultado do exercício de todas as habilidades acima destacadas. Significa a capacidade de diálogo sincero, porém respeitoso. É o saber se colocar sem culpabilizar, sem intimidar, sem se vitimizar… É o estar presente “de corpo e alma” demonstrando interesse e boa vontade para encontrar uma solução sincera e construtiva.

Somente com autoconhecimento, autocontrolo e consciência social é possível, verdadeiramente, se tornar competente emocionalmente e, como todas as outras competências, esta também precisa de apoio, instrução, desafio e experiência.

Sugiro o seguinte exercício para desenvolver a competência emocional:

Durante uma semana preste atenção em si mesmo e numa folha papel, dividida em três colunas, tome notas:

Na primeira coluna, de tudo aquilo que pensa ou sente, mas que considera difícil de conter (de perdoar, de aceitar, de controlar).

Na segunda coluna, escreva ao lado de cada emoção ou pensamento, que consequências a expressão irrefletida/impulsiva desses conteúdos poderia ter no seu contexto de vida.

Na terceira coluna, escreva o que diria, sentiria ou viveria se isto não lhe mobilizasse tanto. Como agiria, após ponderar as suas emoções e pensamentos?

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Qual o limite do positivo?

Num mundo onde tudo tem de ser positivo, devemos pensar positivo, sentir positivo, como sermos verdadeiramente honestos com a nossa humanidade? A nossa psicodinâmica não é positiva nem negativa, é complexa. E é o reconhecimento disto que nos permite pôr em ação o desenvolvimento pessoal.

Tem me angustiado muito o apelo sem crítica à atitude positiva, como se pudéssemos apertar um botão dentro de nós, de acordo com as indicações de um outro, e simplesmente anular todos os conflitos, todas as questões individuais, que surgem com base no vivenciar da nossa própria história de vida.

Subscrevo integralmente o Dr. Micheael Mahoney no seu livro Processos Humanos de Mudança – As bases científicas da psicoterapia, quando nos ensina que “(…) ajudar é consideravelmente mais desafiador do que muitos livros e manuais de tratamento possam admitir. As miraculosas soluções prometidas pelas prescrições de felicidade populares são frequentemente um insulto à dor, à luta e à perseverança demonstrada por muitos clientes de psicoterapia.”

O perigo do culto cego ao positivo está no silenciar da dor, das dificuldades, das dúvidas, pois se nem no âmbito do desenvolvimento pessoal, que é íntimo e confidencial, pudermos falar sem censura e ser escutados, independentemente do conteúdo, como cresceremos e alcanceremos mais saúde mental?

Não adianta explorar potenciais, quando há uma bagagem imensa de culpa e hostilidade relacionada com os mesmos. Os consultórios não se podem tornar mais um local onde os clientes vão dizer aquilo que o outro, terapeuta, espera ouvir. O ambiente clínico e a relação terapêutica são muito mais desafiadores do que o mero incentivo à autenticidade, conforme os ideais do terapeuta, e envolvem um trabalho conjunto e árduo de escuta e de acolhimento.

Somente confrontando-nos com os nossos erros e dificuldades, reconhecendo-os e compreendendo-os, teremos mais força e resiliência.
Portanto, como terapeutas, não calemos a dor.

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